Cleuzi Maria da Luz (Assistente Social)
Atualmente a utilização da visita domiciliar como
instrumento de trabalho do assistente social, embora seu histórico conservador tenha
em seu projeto ético-político profissional, uma nova dimensão.
A
visita domiciliar é um dos instrumentos que potencializa as condições de conhecimento
do cotidiano dos sujeitos, no seu ambiente de convivência familiar e comunitária.
As visitas domiciliares “têm como objetivo conhecer as condições (residência,
bairro) em que vivem tais sujeitos e apreender aspectos do cotidiano das suas
relações, aspectos esses que geralmente escapam às entrevistas de gabinete” (MIOTO,
2001, p.148).
Contudo, ela só se realizará efetivamente quando o
profissional entender necessário e cabível para a situação social em que está
intervindo, requerendo disponibilidade e habilidades específicas deste
profissional. As habilidades aqui referidas dizem respeito ao profissional
quando da operacionalização da visita domiciliar, concebê-la como uma forma de
abordagem “[...] mais flexível e descontraída do que as práticas do cenário
institucional [...]”. (AMARO, 2003, p.17).
A opção pela visita
domiciliar se depara com limites e
possibilidades inerentes a sua utilização. Os limites dão conta do fato do
profissional não conseguir previamente identificar rotinas da família que
possam impedir a efetividade da visita domiciliar. Podem ocorrer situações do
cotidiano daqueles sujeitos, que dificultem as condições ideais para uma
entrevista com um outro membro da família, pelo fato de estarem, muitas vezes
em grupos em suas casas e essas, de modo geral, não terem a proteção necessária
ao sigilo. O profissional, nesse sentido, precisa estar atento aos possíveis
imprevistos e realizar a sua intervenção, sempre compreendendo a ética
profissional.
As possibilidades inerentes à visita domiciliar, em
nosso entendimento, são mais atraentes que seus limites. Quando buscamos o
contato direto com a vida dos sujeitos nos é permitido conhecer de modo mais
apurado suas dificuldades, angustias, suas relações intra-familiares; como se
estabelece a convivência comunitária; seu modo de vida em sua casa, e em sua
rotina.
4.
A abordagem da visita domiciliar
A visita domiciliar deve ser utilizada a partir da
análise que o profissional efetua, sobre a situação social que está sob sua
responsabilidade intervir, e dentre os distintos instrumentos técnicos
disponibilizados para sua atuação, qual deles será mais efetivo para obtenção
do resultado pretendido.
O profissional que fizer a opção por utilizar a
visita domiciliar como seu instrumento de trabalho deve se sentir à vontade com
ele, buscando inicialmente acordar com o sujeito sua entrada na casa, de modo a
explicar-lhe os motivos que o levam a efetuar a visitação. Colocando-se à
disposição do anfitrião para que ele concorde com a entrada do profissional na
residência. Torna-se importante que o profissional aceite as condições
oferecidas pelos que o estão recebendo, não importando em que lugar irá sentar-se,
ou até se tiver que ficar em pé, a visita poderá ser realizada.
É
preciso identificar a realidade exatamente como ela se apresenta, levando em conta
as condições sociais e culturais daqueles sujeitos, sem interpretações que
venham ao encontro de seus conceitos morais e culturais. Este cuidado é de suma
importância,
pois
o conhecimento da vida social daqueles sujeitos, deve compreender a sua
história de vida, com suas especificidades e particularidades, sem preconceitos
e discriminação. Não se pode esquecer que o local onde se desenvolve a visita
domiciliar é privativo dos sujeitos, onde a realidade social se apresenta de
modo diferenciado a como vive o profissional e, “capturar a realidade dentro de
seu quadro social e cultural específico exige do profissional a visão de seus
elementos difíceis, intrigantes e conflitantes, por mais estranhos que eles
possam parecer a nossa razão”. (AMARO, 2003, p.31).
É fundamental que o profissional ao
se apresentar informe com clareza o objetivo da visita domiciliar, devendo
limitar-se a buscar conhecer o que de fato é importante para obtenção dos
elementos necessários à análise da situação.
A
experiência profissional demonstra que se o profissional tiver uma postura respeitosa,
de não-intimidação, a receptividade por parte dos sujeitos será muito maior, assim
como sua participação. Portanto, o respeito aos sujeitos no momento da visita domiciliar
é de extrema importância.
A
Visita Domiciliar é uma estratégia que apresenta vantagens e desvantagens. Dentre as vantagens, citamos:
1- A presença do profissional in loco, atuando no
ambiente doméstico, permite um planejamento de ações mais próximas da realidade
do indivíduo mediante a visualização de condições econômicas e sociais, tais
como: habitação, costumes e higiene;
2- O domicílio permite regras de conduta mais flexíveis e
descontraídas do que as exigidas pela Instituição (burocracia institucional);
3- Esse ambiente favorece melhor relacionamento do grupo
familiar com o profissional. Por ser menos formal, permite a exposição de
variados problemas que interferem na situação do indivíduo, tornando o trabalho
mais humanizado;
4- Dispõe-se de mais tempo para o atendimento do que na
instituição, o que viabiliza melhor intervenção do profissional;
5- A visita agendada previamente favorece a boa receptividade
de toda a família ao profissional.
Por
sua vez, listamos abaixo algumas
desvantagens:
1- Dificuldades de acesso do profissional ao domicílio.
Muitas instituições não possuem carro e o profissional desloca-se por conta
própria;
2- Limitação dos encontros em razão do horário de trabalho e
dos afazeres domésticos, que podem impossibilitar sua realização;
3- Exigência de tempo maior do que no atendimento realizado
na instituição, devido à locomoção ou à execução da visita, tornando-a atividade dispendiosa e de pouco alcance
para a maior parte da população;
4- A visita agendada
previamente pode induzir a família a mascarar a situação que seria encontrada
caso não houvesse esse agendamento.
Quando em seu domicílio, o usuário se permite a
revelação de fatos que na Unidade são comumente ocultados, pelo que o
profissional pode não somente escutar o que o usuário verbaliza, mas entender
suas atitudes a partir do contexto em que está inserido – social, financeiro,
familiar, profissional, religioso e cultural –, onde as diferenças são
relevantes. É preciso considerar todas as dimensões e referências construídas a
partir de relações sociais. Como o problema individual está intrinsecamente
relacionado à vida familiar, há necessidade de se perceber a família como um
todo e não ver apenas um membro dela.
A Visita Domiciliar possibilita o envolvimento do
profissional com o usuário, favorecendo um atendimento mais humanizado, o qual
vai além do procedimento técnico por envolver a subjetividade e o vínculo
afetivo e solidário.
Apesar de a Visita Domiciliar possibilitar o
desenvolvimento de ações educativas, o profissional precisa trabalhar em uma
perspectiva de contribuição para o exercício da cidadania, enxergando o usuário
como um sujeito social. Para compreender esta perspectiva, consideramos
importante que se estabeleça a sua relação com as questões macroestruturais e
conjunturais que conduzem as políticas locais. Isso porque é preciso entender a
realidade como resultado de multifatores, que interferem direta ou
indiretamente no cotidiano familiar.
Tal processo pressupõe que o profissional relativize
seu conhecimento na busca da melhor compreensão do indivíduo, da coletividade e
da realidade na qual se insere, pois é da mútua apropriação de tais
conhecimentos que se torna possível uma intervenção consciente.
Em suma, para que a Visita Domiciliar seja bem
sucedida é essencial que o profissional se desprenda de preconceitos e tenha
visão crítica da realidade a ser observada e interferida, respeitando as
diversidades cultural, social e econômica que determinam o cotidiano familiar.
Aspectos práticos
da visita domiciliar
A
Visita Domiciliar possibilita a aproximação do cotidiano dos usuários pelos
profissionais que utilizam este instrumento, os quais podem observar as
interações familiares e a rede social em que aquele está inserido, o que
favorece o entendimento do indivíduo em todos os aspectos a partir das causas
sociais.
Desse
modo, a Visita Domiciliar é uma técnica que permite melhor aproximação da
realidade do indivíduo ou do grupo aos serviços, permitindo ao profissional
melhor entendimento da situação em que se encontra o visitado. Para o sucesso
dessa prática profissional é essencial que se faça um planejamento prévio, a
fim de possibilitar a melhor intervenção. Assim é essencial que o profissional
disponha de um roteiro para nortear sua ação.
Sugere-se
que a Visita Domiciliar seja realizada por dois ou mais profissionais, de modo
que a observação da situação seja feita por um, enquanto o outro preenche os
instrumentos (questionários, fichas etc.). A observação deve ser seletiva,
respeitando-se o conteúdo que se decidiu trabalhar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário